O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac) é um dos principais atores na preservação da história e da identidade cultural de Contagem. E uma de suas principais funções é fiscalizar a conservação de espaços tombados, garantindo que as obras de restauração ou de adaptação para novos usos respeitem a importância histórica desses patrimônios.
Um bom exemplo desse trabalho foi a visita técnica realizada, pelos conselheiros, no Casarão Itaú, no início do mês, com o objetivo de avaliar a execução das obras de reforma e restauro autorizadas pelo conselho e verificar se as intervenções respeitaram as exigências estabelecidas para a preservação do bem tombado, acordadas entre o Compac e os empreendedores.
“Nosso papel é garantir que toda modificação feita em bens inventariados respeite sua integridade histórica e cultural. O Casarão Itaú é um marco para a cidade e acompanhar de perto sua preservação é uma forma de valorizar nossa memória coletiva”, destacou o conselheiro Evandro Parreiras.
O Casarão Itaú faz parte da memória da industrialização mineira e da história de Contagem. Construído nas primeiras décadas do século XX, o imóvel, que esteve por muitos anos ocioso e em processo de deterioração, foi revitalizado e adaptado para no local funcionar um restaurante e uma churrascaria, ganhando nova vida, ao aliar preservação arquitetônica, funcionalidade comercial e atratividade turística.
O casarão, que abrigou a sede administrativa, da antiga fábrica de cimento foi revitalizado e recebeu adequações para se transformar em um restaurante - Fotos: Evandro Parreiras/PMC (1 e 2) e Pablo Abranches/PMC (3)
Durante a reforma, foram realizadas adequações necessárias ao novo uso do espaço, como a instalação de câmaras frigoríficas, climatização e fechamento em vidro da varanda superior, sem comprometer a originalidade arquitetônica.
As cores escolhidas para a pintura também seguiram orientação técnica: tons sóbrios e discretos, remetendo à estética original da década de 1940. Para Parreira, a obra equilibrou funcionalidade e preservação. “O casarão estava há anos ocioso, sofrendo depredações que poderiam comprometer sua estrutura. Hoje, revitalizado, o espaço mantém viva a história local e ganha nova função social, cultural e econômica”, enfatizou.
Para o gestor do restaurante e empresário, Giovanni Giani, 53, a parceria com o Compac foi fundamental e todo o trabalho de reforma do imóvel foi feito a duas mãos, com participação do conselho. “Durante a obra foram encontradas várias dificuldades em função do perfil do casarão, mas em acordos e reuniões com o Compac adaptamos a área interna e externa dentro das possibilidades que o negócio exigia. Procuramos privilegiar não só a estrutura do imóvel, mantendo a originalidade, como também a história que ele representa, apresentando ainda fotos da memória de Contagem”, informou.
Turismo e identidade cultural
A ambientação do espaço também reforça o vínculo com a memória de Contagem. Fotografias históricas de bens culturais da cidade, como a Igreja de São Gonçalo, a Capela de Santa Edwiges, a Casa de Cacos e o Centro de Memória do Trabalhador, foram incorporadas à decoração. “São registros que coleciono há anos e que hoje contribuem para despertar no visitante a curiosidade em conhecer outros patrimônios da cidade. Assim, o casarão se torna também um espaço de difusão cultural”, afirmou Evandro Parreiras, que além de membro do conselho é servidor da Prefeitura há 20 anos, tendo atuado como fotógrafo em várias ocasiões.
A superintendente de Turismo, Thalita Brito, ressaltou que a preservação do Casarão Itaú contribui também para o fortalecimento do turismo em Contagem. “A revitalização desse patrimônio transformou o casarão em um atrativo turístico. Ele une gastronomia e memória histórica, oferecendo ao visitante não apenas uma experiência de lazer, mas também a oportunidade de vivenciar parte da identidade cultural da cidade”.
Casarão Itaú
O casarão está diretamente ligado à história de Contagem, visto que nele funcionava a parte administrativa da Cimentos Portland Itaú, instalada no município no processo de industrialização. Com o decreto-lei nº 770/1941, 270 hectares de áreas nos municípios de Belo Horizonte e Betim (cidade a qual pertencia o então Distrito de Contagem) foram declarados de utilidade pública para a instalação de indústrias.
A área abrigou não apenas estruturas produtivas, mas também a Vila Operária Itaú, que chegou a ter 240 casas, clube, cinema, capela, farmácia, armazém, posto médico e até banda de música. A chamada “Comunidade Itaú” representou uma verdadeira cidade dentro da cidade, onde se estreitaram laços sociais, culturais e afetivos que permanecem vivos na memória de ex-moradores e trabalhadores.
Com o fim das atividades da indústria no município, as instalações foram demolidas, mantendo intactas apenas o casarão e as chaminés que se tornaram patrimônio histórico-cultural de Contagem.
Compac
Criado pela lei municipal nº 2.961, de 1997, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac) é um órgão consultivo e deliberativo responsável pela proteção do patrimônio cultural de Contagem. Composto por representantes da sociedade civil, entidades de classe e poder público, o conselho tem como atribuição deliberar sobre tombamentos, registros, projetos de preservação e intervenções em bens culturais.
As reuniões do Compac são abertas ao público e acontecem, preferencialmente, na primeira quarta-feira de cada mês. O local é definido sempre em tratativas com a superintendência, podendo inclusive ocorrer de forma virtual. O formato (se presencial ou virtual) é publicado no Diário Oficial de Contagem (DOC), geralmente uma semana antes da reunião, junto com o conteúdo e teor da pauta.